Um dos eventuais problemas quando se fala em superdotados já formados e com projeto de superdotação definidos, é a sensação de superioridade que parece, a partir de então, cercar a criança. Observemos que, ao estudar os projetos de superdotação, vimos que este surge a partir do momento em que a criança ganha consciência das altas habilidades que possui. Desta forma, em geral, o desenvolvimento do projeto de superdotação se relaciona quase que totalmente com a criança tomar consciência de sua diferença social, ver que tem algo de especial e, logo concluir que é superior.
O interessante em tudo isso é que o sentimento de superioridade é algo que, em geral e mesmo inconsciente, todos os seres humanos almejam. Mesmo que não queiramos admitir, a sociedade nos força a ser melhor do que o outro e nós acabamos guardando isso em nosso espaço de inconsciência, ou, para outros, deixando realmente exteriorizar o seu desejo de ser superior e se mostrar assim. Podemos bem observar o comportamento de ocultação da superioridade naqueles que se dizem religiosos e ultra-caridosos. Observamos que a exigência do mundo moderno requer elogios e o ultra-caridoso gosta, quer mostrar a alguém (mesmo que seja à Deus) a sua caridade, a sua bondade. Ou seja, no fim, quer se mostrar moralmente superior aos outros. O que temos efetivamente que tentar observar é como evitar a propagação desastrosa do sentimento de superioridade na vida das pessoas. Como evitar as más impressões e como não deixar que a sensação de "ser maior" domine a vida da criança superdotada.
Algo bom que devemos sempre buscar é o amparo dos pais. Não cabe aos pais fazer mil e um elogios ao filho superdotado na tentativa de engrandecê-lo. Para o eficiente desempenho da atividade alto-habilidosa é de extrema importância que a criança entenda o seu papel na sociedade e em que as suas capacidades poderão auxiliar sua comunidade. Assim sendo, admitamos que o inverso deste processo é fazer o superdotado se sentir superior em sua comunidade. É óbvio que ele será superior na sua área, mas não deve se esquecer que o conhecimento é sempre relativo. Sempre alguém, em perfeitas condições, irá conhecer algo melhor que você, mesmo que este algo seja a sua família, ou seu próprio corpo, ou qualquer outra coisa, sem levar em conta a importância desta. Assim sendo, é bom que a família se conscientize em oferecer os suprimentos necessários ao desenvolvimento da alta habilidade. Estes suprimentos são compostos por elementos abstratos (apoio, respeito, companheirismo, amor) e materiais (livros, cursos, etc). Aumentar o ego da criança só servirá para que, futuramente, ao se deparar com uma dificuldade, o "querido superdotado" seja o primeiro a cair, não aguentando a descordância de ideias e cargos coadjuvantes em seu trabalho. Daí vemos que a família pode também afetar o projeto de superdotação.
A escola, assim como o templo religioso e demais contextos convivência do superdotado são ambientes onde a educação moral da superdotação deve ser trabalhada. A todo instante, a criança deve ter estímulos que a mostre que a sua habilidade é relativa e que deve ser usada para o melhoramento da socidade.
Analisemos agora alguns instrumentos básicos capazes de amenizar a sensação de superioridade nos superdotados:
- Trabalhos sociais: O estímulo de trabalhos humanitários e socias é um grande educador à criança alto-habilidosa. Além dos fins morais geradores da humildade que muitos defendem, estes trabalhos também servem para ampliar o ângulo de visão do superdotado, inspirando-o, no caso artístico, ou mostrando novas realidades mundanas, no caso intelectual. Lembremos sempre de que não há hora certa para se começar trabalhos sociais, aliás, o bom é começar ainda em tenra idade, claro que com a devida motivação da família.
- Atividades religiosas: É muito importante que a criança tenha desenvolvida alguma prática religiosa, seja ela qual for. Esta, além de quase sempre exibir uma noção de inferioridade do ser humano perante a divindade cultuada, serve também para aliviar tensões e apoiar o indivíduo em momentos difíceis ao longo da vida.
- Atividade esportiva em equipe: Estas atividades ajudarão a criança a entender que ela precisa do outro, por mais fantástica que seja, e que os outros precisam dela. Em algumas artes marciais, o conceito de respeito e ordem também é trabalhado. Além das presentes citações, a criança superdotada pode usar a atividade esportiva como modo de descarregar tristezas e sentimentos ruins.
- Atividade artística: As atividades artísticas são potenciais auxiliadores dos superdotados, pois, embora a superdotação do indivíduo não se volte a arte, sempre é interessante que o fazer artístico seja trabalhado na vida do indivíduo. Vemos benefícios disso na ausência de ansiedade, no desenvolvimento da emotividade, observação e análise de fatos, em alguns casos, no trabalho em equipe, e, assim como a atividade esportiva, no alívio de tensões. Observamos também a semente para o crescimento de uma das mais importantes habilidades quando se fala em superdotação: a criatividade. Criatividade esta que não se restringe só a arte, mas que se expande a observação social e até mesmo ao desenvolvimento do raciocínio lógico.
Sugiro aos pais e educadores que procurem mostrar a seus filhos que são importantes para a família, o que faz de bem e o que faz de mal. Peço que tenham cuidado ao repreender as atitudes dos superdotados, pois, como já estudado, eles tem uma alta capacidade de percepção e arquivamento de informações. Converse sobre e exemplifique ações de humildade e resignação. Coloque seu filiado dentro dos ensinamentos de que a sua alta-habilidade deve ser meio reformulador da sociedade e que deve usá-la para o seu bem e dos que o rodeiam. Não exponha seu tutelado, não o coloque em situações de constrangimento (até mesmo um elogio pode ser motivo para a geração do sentimento de constrangimento na criança), não alimente seu ego mais que o necessário e mostre a ele que não há necessidade de ficar exibindo suas capacidades, pois estas, certamente, são ou serão percebidas posteriormente pelos que o cercam.
Romes